quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Bunda budista
Lugar garantido, com certeza
No gosto da plebe e da realeza
Isso que chamo de apego!
Tem bunda que virou artista
Bunda hoje é quase de graça
Uma ou outra que ainda disfarça
Mas boa mesmo é a bunda budista.
Se Buda vivesse neste tempo
De bundas soltas na rua
De pagodeira ou de perua
Saía correndo pro templo!
A bunda budista é atinada
E sabe que bunda bonita
É aquela que ainda acredita
Que só bunda... vale nada.
Maldito desespero
Essa dor de castigo eleito
Aliviar as dores do peito
Escrevo feito anestesia.
Se nem garras mágicas tenho
Que arranquem esse maldito
Esse sopro que desdenho
E respiro corrompido.
Pois já não me basta o pranto
E dormir já não me basta
Inda com vergonha casta
Por isso escrevo e canto.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Refúgio
Pequenino universo, ora tudo, ora nada,
Me aqueço, me abrigo, confesso, esqueço
Latente no tênue labirinto das palavras
Amanheço...
Teu olhar
Que além dos teus olhos é tudo remoto
Breve inexistência do mundo.
E num deslumbre profundo (com nada mais me importo),
Feito cisco vagabundo descanso do meu deserto
no universo do teu olhar.
Tédio
Entre um e outro trago
(juro que não estou bêbado)
Qual o meu pior perfil? Indago:
O fútil ou o inútil?
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Pranto notívago
Árduo é o não querer,
Contudo.
Mata-me não saber onde ir
Morro aos poucos por ficar
Não mudo.
domingo, 13 de julho de 2008
Desconexo
Calos de andarilho lunático
Calam-me os passos gastos
Falam nos telhados os gatos
O esperanto da espera apática
Miado entre equador e ártico.
Me recato, em nada enfático.
domingo, 6 de julho de 2008
Não pertenço a R
Entendo de gente,
de assuntos esotéricos
à sentimentos dramáticos,
para tudo o que se sente
dou conselhos fantásticos.
sou um demente lunático,
protótipo de incógnita
elevado ao neurótico
perdido na matemática.
Amáveis indomáveis


Não chegues tão perto!
Mora uma ave de rapina,
Uma ave ferida,
No oco deste tronco branco.
No cerne do deserto,
Suas inertes retinas
Refletem da partida
Pegadas de um santo manco.
Tal destino incerto,
Qual paralela sina:
Cravelha de duas vidas
Em negras plumas, e negro manto.
terça-feira, 24 de junho de 2008
Tocador de viola
Em versos cantados, enfeita de amoras
Os ramos tristes da vida mundana
Provoca o riso das velhas senhoras
Corteja as belas ciganas
Partilha provérbios insanos
Decifra os arcanos humanos
E adorna o caminho das horas.
Vendedor de ilusões
Vende-se um teto:
Pode ser de palha
Também de concreto
Tem sombra de dia
À noite têm estrelas
Se chove é coberto.
Tem forma de pipa
Tem cor de maçã
Nem curvo, nem reto
Um teto poesia
Moldado nas mãos
De um anjo arquiteto.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
Sonhador
Se o meu coração fosse de barro
Não seria alvenaria
Também não seria jarro
Porque nada aprisionaria.
Se de espuma fosse o meu coração
Não estaria em banheira de luxo
E sim nas ondas do mar
Brincando longe da razão.
Se meu coração fosse de pó
Sujeira não iria causar
Estaria no espaço imenso
Seria poeira estrelar.
Se meu coração fosse de gelo
Não seria indiferente
Nevaria nas montanhas
Até virar água corrente.
Se fosse de metal o meu coração
Não seria gaiola, nem espada
Seria a mais linda jóia
Da indiana adornada.
Se o meu coração fosse de pedra
Não seria um diamante
Seria um seixo de rio
Onde se banham os amantes.
Se dentro do meu peito
Batesse um coração de vento
Seria fresco no dia quente
E adormeceria no relento.
Mas meu coração é de carne
É só um coração de gente
Que queria ser tanta coisa
Por isso bate incoerente...
Bicho
Sou bicho livre que não gosta de sapato
Bom é o som do mato e o cheiro do mar.
Um bicho solto e inconseqüente
Que ama bicho e ama gente
Bicho grilo, rã e passarinho
Encolhido no ninho, tem vontade de voar
Bicho tranquilo, que vai deixar de herança
O prazer de ser criança e o gosto por sonhar.
Transformação
Destroem a chuva e o vento
As humanices pendidas no tempo
Como se brincassem com a vida
Transformam o reto em orgânico
Inventando um jardim botânico
Em cima da casa esquecida...
Ponto de vista
Tudo o que existe
É o que cada um identifica,
É o que passa e fica
Prosperidade ou agonia.
A mesma cena, o mesmo dia
Faz do espectador um criador
Da paisagem rica ou vazia.
Tudo que existe é o que se acredita
Vidas, sonhos, deuses e poesias.
Libido
Este pranto esconso entre as pernas
É néctar de planta mordida
Da mulher que transborda de vida
Fonte etílica e terna de sanha uterina
A flor que abre tardia
Com alguma metade divina
E outra de fêmea vadia.
terça-feira, 4 de março de 2008
Nem pedra nem pássaro
Entre estes mundos estranhos
De pedras estáticas e pássaros,
O corpo move-se com passos
Imprecisos e imprensados.
Além de víceras, sangue e tutano,
Atem o amor, os medos e enganos,
E Cerra com a pele
O frágil humano.
Utilidades do sovaco
O sovaco parece ser
uma parte um tanto inútil...
Mas o que seria do crente,
ou do intelectual,
sem o porta-livros pessoal?
Uma observação factual
demonstra como ele é útil
apesar de cheirar mal.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Amor de retirante
Permita-me pensar em ti
Porque sem ti há um vazio
Como na roça o bem-te-vi
Voa triste em tempos de estio.
Permita-me saber de ti
Ao menos se passas bem
Mesmo tão longe de mim
Sempre serás meu bem.
Quando na roça chover
Daqueles pingos graúdos
Que fazem brotar os miúdos
E Eu voltar para te ver
Talvez possas me permitir
Não só pensar ou saber
Mas também ajudar-te a colher
E ao teu lado ver a noite cair.